“Depois disto ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Então disse eu: Eis-me aqui, envia-me a mim” – Isaías 6:8
Enquanto o mundo jaz sob a maldição do pecado, o Deus vivo, que não deseja que ninguém pereça, mas que venham a arrepender-se, está buscando mensageiros para proclamar a Sua misericórdia. Ele está perguntando, até mesmo em termos apelativos, por alguns que sairão para os milhões que morrem e contarão a maravilhosa história do Seu amor: “A quem enviarei?”.
Como que para tornar a voz mais poderosa pelo tríplice apelo ouvimos a sagrada Trindade perguntar: “Quem há de ir por Nós?”. O Pai pergunta: “Quem irá por Mim e convidará Meus filhos tão distantes a retornarem?”. O Filho pergunta: “Quem procurará para Mim, Minhas ovelhas resgatadas, mas desgarradas?”. O Espírito Santo pergunta: “Em quem residirei e através de quem falarei para que Eu possa transmitir vida às multidões que perecem?”. Deus, na unidade de Sua Natureza, exclama: “A quem enviarei?”, e na Trindade de Suas Pessoas, Ele pergunta: “Quem irá por nós?”. Felizes ficaremos, hoje, se respostas sinceras forem ouvidas nesta casa: “Eis-me aqui, envia-me a mim”. É nosso dever, de qualquer maneira, colocar muito solenemente a questão diante de vós, irmãos e irmãs em Cristo, e enquanto tentamos defender a causa de Yahwéh nós confiamos que o Espírito Santo possa estar aqui, dizendo a um e outro indivíduo, completamente desconhecidos para nós, “Separai-me a Saulo e Barnabé para a obra a que os tenho chamado”. Sim, que a convincente voz da chamada especial da graça possa chegar ao ouvido de alguns aqui presentes, para que respondam como o jovem Samuel e digam: “Eis-me aqui, pois tu me chamaste”. Em primeiro lugar, vamos, nesta manhã, considerar a visão da glória com referência à oferta de serviço feita pelo Profeta: a visão que ele viu. E em segundo lugar, a visão de ordenação que ele viu, e que foi mais do que uma visão, pois seus lábios foram tocados. E em terceiro lugar, vamos falar sobre a Voz Divina e concluir estendendo-nos sobre a resposta sincera.
I. Com reverência, e com toda a atenção de nossos corações, vamos contemplar A VISÃO DA GLÓRIA que Isaías viu. Era necessário que ele a visse para que pudesse ser trazido à condição de máximo comprometimento da qual viria a consagração total expressa em “Eis me aqui, envia-me a mim”. Observe o que ele viu. Ele viu, primeiro, a suprema Glória de Deus. “Eu vi o Senhor”, diz ele, “assentado sobre um alto e sublime trono, e a cauda do seu manto enchia o templo”. Foi Jesus quem ele viu? Foi esta uma das antecipações de Sua futura Encarnação? Provavelmente sim, pois João escreve em seu 12º Capítulo, no verso 41: “Isaías disse isto quando viu a Sua Glória e falou dEle”, referindo-se ao Senhor Jesus Cristo. Não vamos, no entanto, insistir nesta interpretação, pois a palavra, “Senhor”, sem dúvida incluiu, por vezes, toda a Divindade e, portanto, a visão pode ter representado o próprio Senhor revelado de forma visível.
Quanto à Sua Essência absoluta, olhos não conseguem contemplar o Senhor, mas Ele escolhe fazer uma aparição de Si mesmo, aparecendo entre os homens de forma a ser compreendido pelos sentidos humanos. Agora, irmãos e irmãs, nós não sabemos de nada que fornecerá um motivo melhor para o trabalho missionário, ou para o esforço Cristão de qualquer espécie, além de um vislumbre da glória Divina. Este é um dos mais fortes impulsos que uma alma pode sentir. Vejam, ó crentes na Palavra Divina, neste dia o Senhor Deus, Yahwéh, não está destronado, mas assenta-se no Trono de Sua glória! Alguns não O conhecem e outros O negam e O blasfemam, mas Ele permanece Deus sobre todos, bendito para sempre!
Veja a paciência de Sua infinita majestade; Ele Se assenta em calma glória sobre o Seu Trono eterno. As nações se iram furiosamente e imaginam coisas vãs, mas, “Aquele que habita nos céus se rirá, o Senhor zombará deles”. Ainda são cumpridos Seus propósitos e Sua alma permanece em Sua serenidade. Ele é o mesmo e Seus anos não tem fim. Ele senta-Se como um Rei, observa, sobre um trono. Ele nunca renuncia a Sua soberania e domínio. Todas as coisas ainda sentem a Onipotência do reinado de Deus. “O Senhor tem estabelecido o Seu Trono nos céus e o Seu Reino domina sobre tudo”. As rebeliões dos homens podem abalar o Seu domínio firme? Não, mas fora do tumulto selvagem deles, Ele forma ordem e através da resistência mais violenta Ele executa Seus próprios propósitos!
Afinal de contas, o Senhor reina, regozije-se a terra, alegrem-se as multidões de ilhas! Mesmo assim, apesar de toda a confusão de guerra e toda a maldade dos homens nos lugares sombrios da terra, e as blasfêmias detestáveis dos gentios contra o Altíssimo, o Senhor Se assenta em um trono que jamais poderá ser abalado. Não é um simples trono, com alguma dignidade. É o “alto e sublime”. Não está apenas sobre todos os outros tronos por meio de um poder maior, mas sobre todos eles por meio de supremo domínio sobre eles, pois Ele é o Rei dos reis e Senhor dos senhores! Eu desejo, queridos irmãos e irmãs, que possamos ter um vislumbre da glória, poder e domínio que pertencem ao Altíssimo! Se assim fosse, embora certamente nos humilhássemos até o pó, se acenderia em nós uma santa indignação contra o fato dos homens buscarem outros deuses. Seríamos cheios de santa coragem contra essas divindades cegas, surdas e mudas, para as quais ainda seria uma grande honra receber nosso desprezo! Sentiríamos confiança no sucesso final da causa e do reino de Deus vivo.
Mesmo agora, enquanto Ele restringe Sua mão, Ele está sentado sobre um trono alto e exaltado e é até agora o Governador sobre as nações. O dia certamente chegará quando todas as nações contemplarão Seu Trono e curvar-se-ão diante dEle e Deus será visto como o Senhor sobre todos. O Deus a Quem servimos é capaz de dar a vitória para Sua própria causa. Aqui há um impulso para nós em todas as lutas por Sua causa e coroa. Se você optar por tomar o texto como referência ao Senhor Jesus Cristo, que deleite é para nós pensar que não há mais para Ele a coroa de espinhos e a lança cruel e a cuspida de desprezo, mas Aquele que inclinou a cabeça para morte deixou os mortos, para nunca mais morrer e ascendeu à mão direita de Deus, o Pai! Deus, tendo O exaltado soberanamente, agora O assenta sobre um trono alto e sublime. Essa, na verdade, é a origem da nossa comissão: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Porque todo o poder Lhe foi dado no Céu e na terra, portanto, vamos em frente e subjuguemos o povo debaixo de Seus pés. Oh, quando a Sua Igreja acreditará plenamente na glória de Seu Senhor e regozijar-se-á nela, para que Seu poder possa enchê-la, como Seu manto encheu o templo? Se nós não podemos contemplar Suas maiores glórias, que oremos para que Sua presença, pelo Espírito Santo, como a fumaça perfumada e as bainhas de Suas vestes resplandecentes, sejam conhecidas entre nós e nos encham de adoração a Ele. Os fundamentos se moveram em Sua augusta Presença? Que nossos corações sejam movidos, também, enquanto em humilde adoração nos curvamos diante dAquele que é o Senhor e Cristo!
Mas, então, Isaías viu, também, a corte do grande Rei. Ele viu os atendentes gloriosos que perpetuamente realizam homenagem, mui próximo ao Seu Trono. Ele diz: “Acima dele (ou melhor, acima dEle) estavam os serafins”, não implicando que os Seus pés descansavam sobre a terra, ou qualquer outra substância sólida, mas que eles estavam parados em torno e acima do grande Rei, suspensos no ar em um círculo, como um arco-íris ao redor do Trono de Deus, ou como guarda-costas ao redor do Trono da Majestade. Lá estavam eles, querendo saber como agradá-lO, com suas asas, prontos para qualquer missão e adorando enquanto esperavam. Esses serafins podem nos fornecer um padrão para o serviço Cristão; como o Trono de Deus torna-se o impulso para esse serviço, assim, que estes nos sirvam como modelo.
Eles habitam perto do Senhor e nós também devemos habitar. Ele é o seu centro e a sua felicidade, e assim Ele deve ser para nós. Mas eu especialmente noto que eles são ardentes, flamejantes, pois tal é o significado da palavra serafins, um termo aplicado em hebraico para as serpentes voadoras ardentes do deserto. Estes cortesãos do grande Rei eram criaturas de fogo, ardentes, brilhantes e refulgentes, eles O adoram, “que faz dos seus anjos espíritos, dos seus ministros labaredas de fogo”. Yahwéh, que é um fogo consumidor, só pode ser apropriadamente servido por aqueles que estão em fogo, sejam anjos ou homens. Daí a pergunta solene: “Quem dentre nós habitará com o fogo consumidor? Quem dentre nós habitará com as labaredas eternas?” (Isaías 33:14).
Ninguém pode fazer isso, somente o homem nas chamas do Amor Divino. Na Presença desse fogo que consome, não é possível que a tibieza ou a indiferença existam, seríamos totalmente queimados. Para atuar como cortesão diante do ardente Trono de Deus requer-se um espírito seráfico ou ardente, e se nos tornamos apáticos e sem alma, não seremos considerados dignos de ser empregados em missões Divinas. Portanto, que toda frieza do amor e do espírito adormecido seja removida. Que o Senhor nos faça, como João Batista, luzes ardentes e brilhantes! Estes cortesãos de Deus eram ardentes e são, também, retratados para nós para lembrar-nos que são apenas representações de coisas realmente invisíveis e vistas apenas em visão, como tendo seis asas. Tais são os Seus servos, cheios de movimento, cheios de vida!
Por Charles Spurgeon
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